domingo, 20 de maio de 2012

Unidade na diversidade e a diversidade na unidade


Unidade na diversidade e a diversidade na unidade



“É fácil concluir que ‘natureza’ é um conceito socialmente, historicamente e geograficamente constituído. [...] Também fácil detectar que existe uma visão do que é natureza que se tornou a padrão em nossa sociedade: a de que “natureza” é algo externo aos humanos.” BLUWOL (2009)

A concepção de Meio Ambiente mais completa se refere à realidade, a todo o ambiente, tanto o que não sofreu influência da ação humana, quanto aos locais nos quais os humanos habitam, interagem, exercem alguma influência e estabelecem suas relações sociais e culturais. Quando visto assim, o ambiente é mais valorizado, assim como seus integrantes, sejam humanos, plantas, animais, minerais, terra e os ambientes modificados (antropisados). “A significância moral que o mundo natural tem para nós depende de como olhamos para o sistema da natureza como um todo e nosso papel nele”. (TAYLOR, 1989, p99 apud SCHULZE, 2008).

Se tudo que existe é natureza, o ambiente modificado pelo ser humano como as cidades e as grandes lavouras monoculturas; as invenções humanas como os automóveis, as centrais nucleares, o concreto armado e os complexos industriais também são natureza. É natureza modificada. Quando se questionam na ética ambiental alguns desses ambientes e intervenções, não é por não serem “naturais”, mais sim pelo sofrimento, morte e exploração que causam. “Nós somos 100% animais. Também somos 100% humanos. E isso não faz 200%, assim como se eu disser que a água é 100% um líquido e é 100% um composto de hidrogênio.” (OLIVER, 2011)

É provável que a concepção mais adequada e equilibrada de natureza não seja aquela romantizada e idealmente harmônica e nem aquela que vê a natureza como um matadouro a céu aberto de feras rasgando-se umas às outras o tempo todo, apenas em uma competição cruel. A concepção de natureza dentro do novo paradigma é holística, sistêmica e complexa.

Logo, a natureza é ao mesmo tempo o orgânico e o inorgânico, o fragmentário e o unitário, o mecânico e o vivo. É a unidade da diversidade e a diversidade da unidade, numa relação cíclica de reprodução em espiral. Implica numa síntese que não é a “soma de todas as partes”, mas reprodução, transfiguração, ressintetização, recambiação, categorias do movimento que levam a natureza a unificar-se e diversificar-se, reiterativamente. A natureza é rocha e chuva, chuva e planta, planta e animal, animal e homem, transmutação de formas. Rocha que se transforma em sais minerais, sais que se transformam em matéria orgânica vegetal, matéria orgânica vegetal que se transforma em matéria orgânica animal, matéria orgânica animal que se transforma em vida, que o homem transforma em história social. História social que se transforma em nossa qualidade de natureza, numa sucessão de ressintetizações para produzir a vida, para que a vida produza a morte, e com esta se reinicie o ciclo da vida. (SOARES, s.d.)

“Unidade na diversidade e a diversidade na unidade” é uma chave para a melhor convivência e respeito aos interesses entre os seres. Todos são um enquanto partes interconectadas e integrantes de um todo, mais também são igualmente diversificados devendo ser respeitados em suas diferenças. É uma chave para a tolerância, convivência, coexistência, equilíbrio dinâmico, justiça e estabelecimento de uma Cultura de Paz e sentimento de pertença à mesma Teia de Vida, à Aldeia Global e à Casa comum.

Há diversidades entre as espécies e os indivíduos em suas características e opções. Há diversidade de métodos para pesquisar e se chegar a um resultado. Caminhos diferentes podem chegar a um mesmo lugar, embora cada um com suas particularidades como distâncias e paisagens diferentes. Monoculturas e monopólios são perigosos em vários sentidos.

Não existe uma forma certa de viver para NENHUM SER VIVO.
Não existe apenas uma forma certa de articular uma mandíbula.
Não existe apenas uma forma certa de construir um ninho.
Não existe apenas uma forma certa de desenhar um olho.
Não existe apenas uma forma certa de movimentar-se embaixo d’água.
Não existe apenas uma forma certa de reproduzir-se.
Não existe apenas uma forma certa de criar filhos.
Não existe apenas uma forma certa de modelar uma asa.
Não existe apenas uma forma certa de atacar uma presa.
Não existe apenas uma forma certa de defender-se de ataques.

Foi assim que os seres humanos vieram de lá até aqui, vivendo essa história, e as coisas deram sensacionalmente certo até dez mil anos atrás, quando a nossa cultura muito esquisita nasceu obcecada pela idéia de que existe uma única forma certa de as pessoas viverem — e, na verdade, uma única forma certa de fazer praticamente qualquer coisa.” (QUINN, 2005, P 188)

Quando plantamos somente trigo, nos tornamos massa. Se buscamos somente dinheiro, nos tronamos latão. Se permanecemos na infância dos esportes de equipe, nos tornamos uma bola de couro cheia. Cuidado com os monocultores, na religião, na saúde, na fazenda ou na fábrica. Eles são levados à loucura pelo tédio, podem criar a guerra e tentar assumir o poder, porque são, na verdade, fracos. Bill Mollison (2000).


A ideia de que todos deveriam viver de uma mesma forma gera guerras, imperialismos, morte, sofrimento, exploração, intolerância, violência, preconceitos e ódio gratuito. Viver a diversidade é também viver a liberdade, mas sem afetar a liberdade do outro. Viver a unidade é se sentir parte de uma unidade, sentir se um com o outro, igual ao outro. Ser diverso sem afetar a diversidade do outro. Manter-se sem afetar os meios de subsistência o outro, defender a integridade sem afetar a integridade do outro.
Enquanto não vermos que temos duas possibilidades de visões de um mesmo fenômeno. Nós vamos ficar criando barreiras e divisões. E a nossa realidade nesse planeta vai estar muito complicada. Nós temos muitos pontos de vista. E o diálogo sempre que possível se baseia em que o outro tem uma visão tão válida da verdade quanto a minha. E eu discordo e respeito. Eu não preciso concordar com alguém para respeitar. Eu respeito, mas não concordo. Está muito bem. Na medida em que buscamos um ponto de concordância para que agente possa prosseguir. Para que a vida em sociedade como um todo se torne mais simples. (MELLO, 2011)




Disponível em: <http://www.ecodebate. com.br/2009/06/02/consumo-desafio-etico-artigo-de-frei-betto/>.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



BLUWOL, Dennis Zagha. Críticas ao conceito de natureza, ao ambientalismo e ao veganismo em tempos de capitalismo. 2009. Disponível em: <http://www.anda.jor.br/ 2009/11/17/criticas-ao-conceito-de-natureza-ao-ambientalismo-e-ao-veganismo-em-tempos-de-capitalismo-2>. Acesso em 28 de julho 2011.

MELLO, Jorge. Simplicidade como caminho . TEDxPelourinho 2011. Disponível em: <http://www.youtube.com>. Acesso em de 21 abril 2012.

OLIVEIRA, Ana Maria Soares de. Relação homem/natureza no modo de produção capitalista. Universidad de Barcelona. Vol. VI, núm. 119 (18), 2002. Disponível em: <http:// www.4shared.com/get/aCBOlJtQ/O_QUE__NATUREZA.html>. Acesso em 27 julho 2011.

QUINN, Daniel. Além da Civilização: a próxima grande aventura da humanidade. Rio de janeiro: Peirópolis, 2005

SOARES, Maria Lucia de Amorim. Da evolução da concepção de natureza e de homem na ambiência de uma educação ambiental crítica. UNISO. <http://www.anped.org.br/ reunioes/31ra/1trabalho/GT22-4153--Int.pdf>. Acesso em 14 de maio 2011.


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