terça-feira, 15 de maio de 2012

Permacultura: Um movimento global pela sustentabilidade

PERMACULTURA
Fernando Araújo Lana

Símbolo da Permacultura. Fonte: < http://permaculturabr.ning.com>


Permacultura é um movimento, um conjunto de conhecimentos transdiciplinares e metodologias que convergem a criação, planejamento e manutenção de desenhos e sistemas sustentáveis, produtivos, diversificados, resistentes e em equilíbrio dinâmico, com aspectos semelhantes aos encontrados na “natureza”. Procura o máximo de auto-suficiência em suprir de maneira sustentável necessidades como alimento, água, abrigo, energia, saúde, educação, cultura, entre outras, materiais ou não. Insira-se em sabedorias ancestrais e tradicionais, conciliando-as com o conhecimento moderno, promovendo a integração harmoniosa entre as pessoas, os demais seres, a paisagem e a Terra, resultando em uma Cultura Permanente. “Permanente” não significa que é estática, e sim contínua. É dinâmica, se adaptando ao contexto local e global. Invés de exaurir, a Permacultura cria recursos e gera abundância.

O conceito foi desenvolvido na década de 70 por Bill Mollison e David Holmgre. Significa literalmente “Permanent Agriculture” (agricultura permanente), pois começou desenvolvendo “ecossistemas agrícolas produtivos no sentido de permitir estabilidade, diversidade e flexibilidade aos mesmos à semelhança dos ecossistemas naturais” (PERMACOLETIVO, 2011). Mas o significado mais a apropriado à abrangência atual da Permacultura é “Cultura Permanente” ou “Cultura de Permanencia”. A produção de alimento de maneira sustentável continua sendo um dos principais aspectos da permacultura, mas não o único.

Depois de dez anos implantando, com grande sucesso, tais sistemas em todos os continentes, Mollison e seus colaboradores perceberam que não adianta concentrar-se em sistemas naturais sem considerar os outros sistemas tão vitais para a sobrevivência humana: sistemas monetários, urbanos (arquitetura, reciclagem de lixo e águas), sociais e de crenças. (GRUPO DE PERMACULTURA DA UFSC, 2011)

“Autossuficiência alimentar não tem sentido sem que as pessoas tenham acesso a terra, informação e recursos financeiros”. (Não por acaso, um dos princípios éticos da permacultura é cultivar a menor área de terra possível, por meio de sistemas intensivos de pequena escala e eficientes em energia.) (MOLLISON apud CAPELLO, 2009)

Bill Mollison e David Holmgren moravam em uma pequena vila no interior da Tasmânia, onde produziam e coletavam o próprio alimento que consumiam. Nesse local, sentiram a presença da poluição e o início da escassez de recursos. Enquanto professores da Universidade da Tasmânia “estavam pesquisando um sistema agricultural sustentável para servir como resposta positiva aos sistemas políticos e industriais que, na visão de Mollison, condenavam a continuidade da vida humana e do mundo à nossa volta.” (MOLLISON, 1991) O processo resultou no conjunto de princípios e num grande jardim experimental rico em biodiversidade que servil como laboratório a céu aberto para suas observações.

As observações prosseguiram nas florestas australianas, encontrando padrões e princípios que pudessem estar presentes em sistemas de alta produtividade, estáveis e recuperadores de ecossistemas locais. Viajaram o mundo encontrando conceitos e práticas de culturas ancestrais remanescentes que vivem em relativo equilíbrio com o meio ambiente, e “sobreviveram por mais tempo do que qualquer um dos recentes experimentos civilizacionais” (Daniel Quinn, s.d.). Muitos desses conhecimentos, habilidades e sabedorias passaram a fazer parte da permacultura, que os concilia áreas do conhecimento moderno, como biologia, agroecologia, arquitetura, nutrição, geografia de paisagem, antropologia, filosofia e economia solidária.

São conhecimentos aplicáveis praticamente em qualquer lugar. O permacultor é um design que busca a interação e integração entre todos os elementos do espaço onde se encontram os assentamentos humanos, possibilitando a formação de unidades rurais, cidades, casas, escolas, praças, ecovilas e aldeias com padrões de sustentabilidade mais permanentes. Há menor gasto de energia e esforço na manutenção dos mesmos. O cultivo, por exemplo, tende a diminuir, cedendo lugar a mais atividade de coleta.

Embora, a princípio, a Permacultura aparente ser de trabalho intenso, ela não é um retorno aos sistemas proletários de colheitas anuais, escravidão e sofrimento sem fim [...] Pelo contrário, ela prioriza o design [...] para o melhor benefício, utilizando uma certa quantidade de trabalho humano (que pode incluir amigos e vizinhos), uma acumulação gradual de plantas produtivas perenes, [...] o uso de recursos biológicos, tecnologias alternativas que gerem e economizem energia e um uso moderado de máquinas, de forma apropriada. [...] Neste momento, nos parece óbvio que o planejamento da produção alimentar altamente intensiva e biológica, a partir da porta de casa, é o único caminho para a saída das crises futuras. (MOLLISON, 1991)

A permacultura não é restrita a uma disciplina acadêmica, ciência, filosofia ou técnica. Mas pode incluir isso tudo. Não depende apenas do projeto de especialistas. Mais a contribuição destes é bem vinda. A permacultura também contribui para os mesmos, ajudando-os a ter idéias e práticas mais sustentáveis diferentes das convencionalmente utilizadas.

A Permacultura é fundamentada eticamente e concebe princípios ecológicos para estabelecer, desenhar, criar, gerir, coordenar, imitar e melhorar os esforços feitos por indivíduos e comunidades por um futuro sustentável. O fazer permacultural se constrói pensando sobre o uso dos recursos de que se dispõe localmente, aprendendo a fazer diretamente aquilo que de outra maneira demandaria muitos intermediários, altos custos financeiros, de energia no transporte e nos longos processos industriais, alta poluição e impactos socioambientais.

Mollison ganhou o prêmio Nobel Alternativo, chamado de “Premio da Sustentabilidade” (Right Livelihood Award) no ano 2000, a medalha VAVILOV e foi declarado o Ecologista do Século na Austrália. (ECOVILA CUNHA, 2011) Em 1978, Holmgren deixou a universidade e foi se dedicar exclusivamente à melhoria do método e à sua propagação. (ROMERO, 2002). A permacultura chegou ao Brasil por Mollison em curso dado em Porto Alegre.” (GRUPO DE PERMACULTURA DA UFSC, 2011)

Abaixo são citados os princípios da Permacultura:

Princípios éticos

  • Cuidado com a Terra
  • Cuidado com as Pessoas
  • Partilha justa, estabelecer limites para consumo e produção, e redistribuir o excedente.

Princípios gerais e de design

·         Localização relativa: cada elemento (casa, tanque, estradas etc.) é posicionado em relação ao outro, de forma que auxiliem mutuamente.
·         Cada elemento executa muitas funções.
·         Cada função importante é apoiada por muitos elementos.
·         Planejamento do uso de energia para a casa e os assentamentos (zonas e setores).
·         Preponderância do uso de recursos biológicos sobre o uso de combustíveis fósseis.
·         Reciclagem local de energias (ambas: as humanas e as combustíveis).
·         Sistemas intensivos em pequena escala.
·         Utilização e aceleração da sucessão natural de plantas, visando o estabelecimento de sítios e solos favoráveis. (Sistemas Agroflorestais são uma forma de realizar isso).
·         Policultura e diversidade de espécies benéficas, objetivando um sistema produtivo e interativo.
·         Utilização de bordas e padrões naturais para um melhor efeito (efeito de bordas).

Os campos/áreas de conhecimento são ilustrados pela Flor da Permacultura:


Fonte: < http://casacolmeia.wordpress.com/o-que-e-a-permacultura>

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ECOVILA CUNHA. Curso de Qualificação de Permacultores. Disponível em: <http:// www.ecovilacunha.org/portugues/programas.html>. Acesso em 05 junh. De 2011.

GRUPO DE PERMACULTURA DA UFSC. Permacultura. Disponível em: <http://www.cca.ufsc.br/permacultura> Acesso em 5 de junho de 2011.

MOLLISON, Bill. Introdução à Permacultura. 2º Ed. Editora Tagari Publications  (Inglês), Editora Novo Tempo (Português): Autrália, 1991. 2º Ed em 1994. Tradução por André Luis Jaeger Soares. 204 p.

PERMACOLETIVO. Disponível em: <http://permacoletivo.wordpress.com>.

QUINN, DANIEL. Ismael. São Paulo: Peripópolis, 1998.
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