Unidade
na diversidade e a diversidade na unidade
“É fácil concluir que ‘natureza’ é um
conceito socialmente, historicamente e geograficamente constituído. [...] Também
fácil detectar que existe uma visão do que é natureza que se tornou a padrão em
nossa sociedade: a de que “natureza” é algo externo aos humanos.”
BLUWOL (2009)
A concepção de Meio Ambiente mais completa se refere
à realidade, a todo o ambiente, tanto o que não sofreu influência da ação
humana, quanto aos locais nos quais os humanos habitam, interagem, exercem
alguma influência e estabelecem suas relações sociais e culturais. Quando visto
assim, o ambiente é mais valorizado, assim como seus integrantes, sejam humanos,
plantas, animais, minerais, terra e os ambientes modificados (antropisados). “A
significância moral que o mundo natural tem para nós depende de como olhamos
para o sistema da natureza como um todo e nosso papel nele”. (TAYLOR, 1989, p99
apud SCHULZE, 2008).
Se tudo que existe é natureza, o ambiente modificado
pelo ser humano como as cidades e as grandes lavouras monoculturas; as
invenções humanas como os automóveis, as centrais nucleares, o concreto armado
e os complexos industriais também são natureza. É natureza modificada. Quando
se questionam na ética ambiental alguns desses ambientes e intervenções, não é
por não serem “naturais”, mais sim pelo sofrimento, morte e exploração que
causam. “Nós somos 100% animais. Também somos 100%
humanos. E isso não faz 200%, assim como se eu disser que a água é 100% um
líquido e é 100% um composto de hidrogênio.” (OLIVER, 2011)
É provável que a concepção
mais adequada e equilibrada de natureza não seja aquela romantizada e idealmente
harmônica e nem aquela que vê a natureza como um matadouro a céu aberto de
feras rasgando-se umas às outras o tempo todo, apenas em uma competição cruel.
A concepção de natureza dentro
do novo paradigma é holística, sistêmica e complexa.
Logo,
a natureza é ao mesmo tempo o orgânico e o inorgânico, o fragmentário e o
unitário, o mecânico e o vivo. É a unidade
da diversidade e a diversidade da unidade, numa relação cíclica
de reprodução em
espiral. Implica numa síntese que não é a “soma de todas as
partes”, mas reprodução, transfiguração, ressintetização, recambiação,
categorias do movimento que levam a natureza a unificar-se e diversificar-se,
reiterativamente. A natureza é rocha e chuva, chuva e planta, planta e animal,
animal e homem, transmutação de formas. Rocha que se transforma em sais
minerais, sais que se transformam em matéria orgânica vegetal, matéria orgânica
vegetal que se transforma em matéria orgânica animal, matéria orgânica animal
que se transforma em vida, que o homem transforma em história social. História
social que se transforma em nossa qualidade de natureza, numa sucessão de
ressintetizações para produzir a vida, para que a vida produza a morte, e com
esta se reinicie o ciclo da vida. (SOARES, s.d.)
“Unidade
na diversidade e a diversidade na unidade” é uma chave para a melhor
convivência e respeito aos interesses entre os seres. Todos são um enquanto
partes interconectadas e integrantes de um todo, mais também são igualmente
diversificados devendo ser respeitados em suas diferenças. É uma chave para a
tolerância, convivência, coexistência, equilíbrio dinâmico, justiça e estabelecimento
de uma Cultura de Paz e sentimento de pertença à mesma Teia de Vida, à Aldeia
Global e à Casa comum.
Há diversidades entre as
espécies e os indivíduos em suas características e opções. Há diversidade de
métodos para pesquisar e se chegar a um resultado. Caminhos diferentes podem
chegar a um mesmo lugar, embora cada um com suas particularidades como
distâncias e paisagens diferentes. Monoculturas e monopólios são perigosos em
vários sentidos.
“Não existe uma forma certa de viver para NENHUM SER VIVO.
Não existe apenas uma forma certa de articular uma
mandíbula.
Não existe apenas uma forma certa de construir um
ninho.
Não existe apenas uma forma certa de desenhar um olho.
Não existe apenas uma forma certa de movimentar-se
embaixo d’água.
Não existe apenas uma forma certa de reproduzir-se.
Não existe apenas uma forma certa de criar filhos.
Não existe apenas uma forma certa de modelar uma asa.
Não existe apenas uma forma certa de atacar uma presa.
Não existe apenas uma forma certa de defender-se de
ataques.
Foi assim que os seres humanos vieram de lá até aqui,
vivendo essa história, e as coisas deram sensacionalmente certo até dez mil
anos atrás, quando a nossa cultura muito esquisita nasceu
obcecada pela idéia de que existe uma única forma certa de as pessoas viverem —
e, na verdade, uma única forma certa de fazer praticamente qualquer coisa.” (QUINN,
2005, P 188)
Quando plantamos somente trigo, nos
tornamos massa. Se buscamos somente dinheiro, nos tronamos latão. Se
permanecemos na infância dos esportes de equipe, nos tornamos uma bola de couro
cheia. Cuidado com os monocultores, na religião, na saúde, na fazenda ou na
fábrica. Eles são levados à loucura pelo tédio, podem criar a guerra e tentar
assumir o poder, porque são, na verdade, fracos. Bill Mollison (2000).
A ideia de que
todos deveriam viver de uma mesma forma gera guerras, imperialismos, morte,
sofrimento, exploração, intolerância, violência, preconceitos e ódio gratuito. Viver
a diversidade é também viver a liberdade, mas sem afetar a liberdade do outro.
Viver a unidade é se sentir parte de uma unidade, sentir se um com o outro,
igual ao outro. Ser diverso sem afetar a diversidade do outro. Manter-se sem
afetar os meios de subsistência o outro, defender a integridade sem afetar a
integridade do outro.
Enquanto não vermos que temos
duas possibilidades de visões de um mesmo fenômeno. Nós vamos ficar criando
barreiras e divisões. E a nossa realidade nesse planeta vai estar muito
complicada. Nós temos muitos pontos de vista. E o diálogo sempre que possível
se baseia em que o outro tem uma visão tão válida da verdade quanto a minha. E
eu discordo e respeito. Eu não preciso concordar com alguém para respeitar. Eu
respeito, mas não concordo. Está muito bem. Na medida em que buscamos um ponto
de concordância para que agente possa prosseguir. Para que a vida em sociedade
como um todo se torne mais simples. (MELLO, 2011)
Disponível
em: <http://www.ecodebate. com.br/2009/06/02/consumo-desafio-etico-artigo-de-frei-betto/>.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BLUWOL,
Dennis Zagha. Críticas ao conceito de
natureza, ao ambientalismo e ao veganismo em tempos de capitalismo.
2009. Disponível
em: <http://www.anda.jor.br/ 2009/11/17/criticas-ao-conceito-de-natureza-ao-ambientalismo-e-ao-veganismo-em-tempos-de-capitalismo-2>. Acesso em 28 de julho 2011 .
MELLO, Jorge. Simplicidade como caminho .
TEDxPelourinho 2011. Disponível em: <http://www.youtube.com>. Acesso em
de 21 abril 2012.
OLIVEIRA,
Ana Maria Soares de. Relação homem/natureza no modo de produção capitalista.
Universidad de Barcelona. Vol. VI, núm. 119 (18), 2002. Disponível em: <http://
www.4shared.com/get/aCBOlJtQ/O_QUE__NATUREZA.html>. Acesso em 27 julho 2011 .
QUINN,
Daniel. Além da Civilização: a próxima
grande aventura da humanidade. Rio de janeiro: Peirópolis, 2005
SOARES,
Maria Lucia de Amorim. Da evolução da
concepção de natureza e de homem na ambiência de uma educação ambiental
crítica. UNISO. <http://www.anped.org.br/ reunioes/31ra/1trabalho/GT22-4153--Int.pdf>.
Acesso em 14 de
maio 2011 .
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Unidade na diversidade e a diversidade na unidade de Fernando A. Lana é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Unported.
Baseado no trabalho em ecobiocosmoetica.blogspot.com.br.
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