domingo, 20 de maio de 2012

Unidade na diversidade e a diversidade na unidade


Unidade na diversidade e a diversidade na unidade



“É fácil concluir que ‘natureza’ é um conceito socialmente, historicamente e geograficamente constituído. [...] Também fácil detectar que existe uma visão do que é natureza que se tornou a padrão em nossa sociedade: a de que “natureza” é algo externo aos humanos.” BLUWOL (2009)

A concepção de Meio Ambiente mais completa se refere à realidade, a todo o ambiente, tanto o que não sofreu influência da ação humana, quanto aos locais nos quais os humanos habitam, interagem, exercem alguma influência e estabelecem suas relações sociais e culturais. Quando visto assim, o ambiente é mais valorizado, assim como seus integrantes, sejam humanos, plantas, animais, minerais, terra e os ambientes modificados (antropisados). “A significância moral que o mundo natural tem para nós depende de como olhamos para o sistema da natureza como um todo e nosso papel nele”. (TAYLOR, 1989, p99 apud SCHULZE, 2008).

Se tudo que existe é natureza, o ambiente modificado pelo ser humano como as cidades e as grandes lavouras monoculturas; as invenções humanas como os automóveis, as centrais nucleares, o concreto armado e os complexos industriais também são natureza. É natureza modificada. Quando se questionam na ética ambiental alguns desses ambientes e intervenções, não é por não serem “naturais”, mais sim pelo sofrimento, morte e exploração que causam. “Nós somos 100% animais. Também somos 100% humanos. E isso não faz 200%, assim como se eu disser que a água é 100% um líquido e é 100% um composto de hidrogênio.” (OLIVER, 2011)

É provável que a concepção mais adequada e equilibrada de natureza não seja aquela romantizada e idealmente harmônica e nem aquela que vê a natureza como um matadouro a céu aberto de feras rasgando-se umas às outras o tempo todo, apenas em uma competição cruel. A concepção de natureza dentro do novo paradigma é holística, sistêmica e complexa.

Logo, a natureza é ao mesmo tempo o orgânico e o inorgânico, o fragmentário e o unitário, o mecânico e o vivo. É a unidade da diversidade e a diversidade da unidade, numa relação cíclica de reprodução em espiral. Implica numa síntese que não é a “soma de todas as partes”, mas reprodução, transfiguração, ressintetização, recambiação, categorias do movimento que levam a natureza a unificar-se e diversificar-se, reiterativamente. A natureza é rocha e chuva, chuva e planta, planta e animal, animal e homem, transmutação de formas. Rocha que se transforma em sais minerais, sais que se transformam em matéria orgânica vegetal, matéria orgânica vegetal que se transforma em matéria orgânica animal, matéria orgânica animal que se transforma em vida, que o homem transforma em história social. História social que se transforma em nossa qualidade de natureza, numa sucessão de ressintetizações para produzir a vida, para que a vida produza a morte, e com esta se reinicie o ciclo da vida. (SOARES, s.d.)

“Unidade na diversidade e a diversidade na unidade” é uma chave para a melhor convivência e respeito aos interesses entre os seres. Todos são um enquanto partes interconectadas e integrantes de um todo, mais também são igualmente diversificados devendo ser respeitados em suas diferenças. É uma chave para a tolerância, convivência, coexistência, equilíbrio dinâmico, justiça e estabelecimento de uma Cultura de Paz e sentimento de pertença à mesma Teia de Vida, à Aldeia Global e à Casa comum.

Há diversidades entre as espécies e os indivíduos em suas características e opções. Há diversidade de métodos para pesquisar e se chegar a um resultado. Caminhos diferentes podem chegar a um mesmo lugar, embora cada um com suas particularidades como distâncias e paisagens diferentes. Monoculturas e monopólios são perigosos em vários sentidos.

Não existe uma forma certa de viver para NENHUM SER VIVO.
Não existe apenas uma forma certa de articular uma mandíbula.
Não existe apenas uma forma certa de construir um ninho.
Não existe apenas uma forma certa de desenhar um olho.
Não existe apenas uma forma certa de movimentar-se embaixo d’água.
Não existe apenas uma forma certa de reproduzir-se.
Não existe apenas uma forma certa de criar filhos.
Não existe apenas uma forma certa de modelar uma asa.
Não existe apenas uma forma certa de atacar uma presa.
Não existe apenas uma forma certa de defender-se de ataques.

Foi assim que os seres humanos vieram de lá até aqui, vivendo essa história, e as coisas deram sensacionalmente certo até dez mil anos atrás, quando a nossa cultura muito esquisita nasceu obcecada pela idéia de que existe uma única forma certa de as pessoas viverem — e, na verdade, uma única forma certa de fazer praticamente qualquer coisa.” (QUINN, 2005, P 188)

Quando plantamos somente trigo, nos tornamos massa. Se buscamos somente dinheiro, nos tronamos latão. Se permanecemos na infância dos esportes de equipe, nos tornamos uma bola de couro cheia. Cuidado com os monocultores, na religião, na saúde, na fazenda ou na fábrica. Eles são levados à loucura pelo tédio, podem criar a guerra e tentar assumir o poder, porque são, na verdade, fracos. Bill Mollison (2000).


A ideia de que todos deveriam viver de uma mesma forma gera guerras, imperialismos, morte, sofrimento, exploração, intolerância, violência, preconceitos e ódio gratuito. Viver a diversidade é também viver a liberdade, mas sem afetar a liberdade do outro. Viver a unidade é se sentir parte de uma unidade, sentir se um com o outro, igual ao outro. Ser diverso sem afetar a diversidade do outro. Manter-se sem afetar os meios de subsistência o outro, defender a integridade sem afetar a integridade do outro.
Enquanto não vermos que temos duas possibilidades de visões de um mesmo fenômeno. Nós vamos ficar criando barreiras e divisões. E a nossa realidade nesse planeta vai estar muito complicada. Nós temos muitos pontos de vista. E o diálogo sempre que possível se baseia em que o outro tem uma visão tão válida da verdade quanto a minha. E eu discordo e respeito. Eu não preciso concordar com alguém para respeitar. Eu respeito, mas não concordo. Está muito bem. Na medida em que buscamos um ponto de concordância para que agente possa prosseguir. Para que a vida em sociedade como um todo se torne mais simples. (MELLO, 2011)




Disponível em: <http://www.ecodebate. com.br/2009/06/02/consumo-desafio-etico-artigo-de-frei-betto/>.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



BLUWOL, Dennis Zagha. Críticas ao conceito de natureza, ao ambientalismo e ao veganismo em tempos de capitalismo. 2009. Disponível em: <http://www.anda.jor.br/ 2009/11/17/criticas-ao-conceito-de-natureza-ao-ambientalismo-e-ao-veganismo-em-tempos-de-capitalismo-2>. Acesso em 28 de julho 2011.

MELLO, Jorge. Simplicidade como caminho . TEDxPelourinho 2011. Disponível em: <http://www.youtube.com>. Acesso em de 21 abril 2012.

OLIVEIRA, Ana Maria Soares de. Relação homem/natureza no modo de produção capitalista. Universidad de Barcelona. Vol. VI, núm. 119 (18), 2002. Disponível em: <http:// www.4shared.com/get/aCBOlJtQ/O_QUE__NATUREZA.html>. Acesso em 27 julho 2011.

QUINN, Daniel. Além da Civilização: a próxima grande aventura da humanidade. Rio de janeiro: Peirópolis, 2005

SOARES, Maria Lucia de Amorim. Da evolução da concepção de natureza e de homem na ambiência de uma educação ambiental crítica. UNISO. <http://www.anped.org.br/ reunioes/31ra/1trabalho/GT22-4153--Int.pdf>. Acesso em 14 de maio 2011.


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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Educação Ambiental


EDUCAÇÃO AMBIENTAL



A Educação Ambiental visa à conscientização ambiental por meio da disseminação de conhecimento teórico, compreensão, motivação, habilidade e práticas sustentáveis para aquisição de princípios, mentalidades e atitudes necessárias à devida valorização do meio ambiente e para lidar com soluções dos problemas socioambientais. Ela pode ser formal ou informal. Ela também pode ser superficial, mas é necessário que seja profunda. É importante que a Educação Ambiental seja transmitida de maneira inter, multi e trans-disciplinar; sistêmica, holística, dinâmica, lúdica, artística e contextualizada com a realidade local, levando-se em consideração o princípio de “agir localmente pensando globalmente”. Os indivíduos inseridos nesse processo atuam como multiplicadores e agentes de transformação.


É importante que a Educação Ambiental seja embasada em uma Ecologia Integral, ou seja, entendida em seu sentido mais amplo, que transcende a esfera biológica. As pessoas podem ser estimuladas a fazer as conexões entre suas atividades e as consequências no ambiente. A Educação Ambiental deve promover a compreensão da existência e da importância da interdependência entre os seres vivos, o ambiente físico e a Terra. É a percepção de que tudo está inter-relacionado, como redes e teias. Essa interdependência e sintonia também se aplicam a áreas como a social, política, econômica e ecológica. Isso gera o sentimento de ser parte integrante da natureza, não à parte, nem acima da mesma, valorizando o Universo como um todo do qual os seres são parte integrante e possuem valor próprio, intrínseco e inerente. São todos partes da grande Teia da Vida.

Saber não é ter mais conhecimento e informações. É preciso filtrar e processar essas informações, relacionando-as com o a realidade do tempo em que se vive, com o ambiente, para entender como transformá-las em sabedoria aplicável beneficamente na prática. Desde criança, o ser humano pode se educar, incentivando-se no sentido da construção e conquista da liberdade. Para Proudhon, um caminho está na atividade artesanal, na qual o artesão domina a totalidade do processo. (FERNANDES, s.d.) “Teremos uma educação muito mais completa, que não dicotomizará a realidade em duas facetas irreais, se tomadas inarticuladamente: o racional e o físico.” (GALLO, 1996) O processo educacional é mais completo quando leva em consideração o conhecimento prático e teórico. “Em diferentes lugares do planeta, sempre existe uma minoria de educadores, animados pela fé na necessidade de reformar o pensamento e em regenerar o ensino. São educadores que possuem um forte senso de sua missão.” (MORIN, apud ANDRÉ, 2011)


Fonte: <http://blog.socialmoda.com.br/2008/06/02/greenpeace-meia-amazonia-nao>


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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Cultura de Paz e Não Violência


CULTURA DE PAZ E NÃO VIOLÊNCIA 


O principal tema tratado pela ética ao longo do tempo tem sido a questão da violência. Segundo Marilena Chaui a “filosofia moral se ergue como reflexão contra a violência.” São formas de “violência o assassinato, tortura, suplício, escravidão, crueldade, mentira, etc”. (CHAUI, 2000)



Num sentido positivo, ética é a promoção de uma Cultura de Paz. Paz não significa apenas ausência de violência, mas a não-violência contribui para a Paz. Os seres viventes são iguais em importância e formam uma unidade, embora sejam diversos. É a unidade na diversidade e diversidade na unidade, princípio que gera mais tolerância, coexistência pacífica e diálogo. Equilíbrio dinâmico, harmonia, cooperação/apoio mútuo e sustentabilidade também auxiliam no estabelecimento de uma Cultura de Paz. 

Durante o IV Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade ocorrido em Belo Horizonte (2011), a Monja Cohen comentou que: “Pacifismo não significa passividade.” O grande pacifista Gandhi, por exemplo, não era passivo, e sim muito ativo. Ser pacifista é promover mudanças e protestar contra as injustiças de modo não-violênto. Isso tem sido chamado de pacifismo ativo ou não-violência ativa. É procurar ter atitude pró-ativa, que não espera a mudança de uma maioria para agir. Gandhi disse: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”, “Não existe um Caminho para a PAZ. A PAZ é o Caminho.” (FRAZZ, 2011)

Um documento importante nesse sentido foi o Manifesto 2000 Por uma Cultura de Paz e Não Violência, organizado pela UNESCO e elaborado por ganhadores do Prêmio Nobel PAZ. (UNESCO, 2000).

Um princípio originado na cultura, filosofia e religião indiana chamado de Ahimsa, é uma das formas mais antigas de enfatizar a não violência. A palavra vem da língua sânscrita e é composta por hims, “agredir”, com a adição do prefixo de negação ‘a’. Significa “não agredir, violentar, prejudicar, matar, causar sofrimento ou dor” a nenhum ser vivo. É o respeito a toda forma de vida, valorizando também a unidade na qual todos estão interligados sem deixar de ser diversos. Acredita-se que atos de violência geram consequências negativas que dão continuidade ao ciclo de sofrimento. A prática de ahimsa, ao contrário, contribui para libertar. Há uma expressão que diz: Ahimsa Paramo Dharmaha: “Não-violência é o supremo caminho”.

Apesar de Ahimsa (não-violência) ser graficamente uma negação, pode ser entendida no sentido positivo, como sendo a vivência de uma cultura de paz, amor infinito incondicional e bondade para com todos os seres vivos, incluindo animais não-humanos. Ahimsa é o atributo da alma e por isso pode ser praticado por todos, em vários aspectos e em todos os momentos da vida.

Mohandas Karamchand Gandhi foi chamado de Mahatma, que em sânscrito significa ‘grande alma’, principalmente por ter contribuído para a independência de seu povo através da Ahimsa (Não-Violência), valendo-se da resistência pacífica. Sua ênfase era nos princípios de Ahimsa e de Satyagraha, que significa ‘apego à verdade’, ‘caminho da verdade’ ou ‘busca da verdade’, que é a política benevolente para com o ofensor, ou seja, amor e justiça cósmica.

Sua forma de agir teve impacto sobre a Índia, impressionou a opinião pública nos países ocidentais e influenciou ativistas de vários movimentos pelos direitos civis como Martin Luther King Jr. No pensamento de Gandhi, o conceito de ahimsa impede não só o ato de infligir uma lesão física, mais também agressões como maus pensamentos; sentimentos como ódio e palavras ofensivas, violentas e mentirosas. Um estudo minucioso histórico e filosófico de ahimsa também foi fundamental para a formação do princípio da "reverência pela vida" do médico Albert Schweitzer. Ele preferia não mencioná-la como princípio negativo da violência, mais como ação positiva, como a ajuda de seres feridos. A prevenção da violência também parte desse princípio. Reconhece-se a necessidade de autodefesa quando necessário. 


Bandeira da Paz. Disponível em: <http://universoorganico.wordpress.com/2008/11/21/a-bandeira-da-paz-atraves-da-cultura>



Ahimsa (Não Violência). Disponível em: < http://www.zazzle.com.br>

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000.
FRAZZ. 2011. Disponível em: <http://www.frazz.com.br/frase.html/Gandhi-Seja_a_mudanca_que_-64520>. Acesso em 26 julho 2011.
UNESCO. Manifesto 2000.

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terça-feira, 15 de maio de 2012

Permacultura: Um movimento global pela sustentabilidade

PERMACULTURA
Fernando Araújo Lana

Símbolo da Permacultura. Fonte: < http://permaculturabr.ning.com>


Permacultura é um movimento, um conjunto de conhecimentos transdiciplinares e metodologias que convergem a criação, planejamento e manutenção de desenhos e sistemas sustentáveis, produtivos, diversificados, resistentes e em equilíbrio dinâmico, com aspectos semelhantes aos encontrados na “natureza”. Procura o máximo de auto-suficiência em suprir de maneira sustentável necessidades como alimento, água, abrigo, energia, saúde, educação, cultura, entre outras, materiais ou não. Insira-se em sabedorias ancestrais e tradicionais, conciliando-as com o conhecimento moderno, promovendo a integração harmoniosa entre as pessoas, os demais seres, a paisagem e a Terra, resultando em uma Cultura Permanente. “Permanente” não significa que é estática, e sim contínua. É dinâmica, se adaptando ao contexto local e global. Invés de exaurir, a Permacultura cria recursos e gera abundância.

O conceito foi desenvolvido na década de 70 por Bill Mollison e David Holmgre. Significa literalmente “Permanent Agriculture” (agricultura permanente), pois começou desenvolvendo “ecossistemas agrícolas produtivos no sentido de permitir estabilidade, diversidade e flexibilidade aos mesmos à semelhança dos ecossistemas naturais” (PERMACOLETIVO, 2011). Mas o significado mais a apropriado à abrangência atual da Permacultura é “Cultura Permanente” ou “Cultura de Permanencia”. A produção de alimento de maneira sustentável continua sendo um dos principais aspectos da permacultura, mas não o único.

Depois de dez anos implantando, com grande sucesso, tais sistemas em todos os continentes, Mollison e seus colaboradores perceberam que não adianta concentrar-se em sistemas naturais sem considerar os outros sistemas tão vitais para a sobrevivência humana: sistemas monetários, urbanos (arquitetura, reciclagem de lixo e águas), sociais e de crenças. (GRUPO DE PERMACULTURA DA UFSC, 2011)

“Autossuficiência alimentar não tem sentido sem que as pessoas tenham acesso a terra, informação e recursos financeiros”. (Não por acaso, um dos princípios éticos da permacultura é cultivar a menor área de terra possível, por meio de sistemas intensivos de pequena escala e eficientes em energia.) (MOLLISON apud CAPELLO, 2009)

Bill Mollison e David Holmgren moravam em uma pequena vila no interior da Tasmânia, onde produziam e coletavam o próprio alimento que consumiam. Nesse local, sentiram a presença da poluição e o início da escassez de recursos. Enquanto professores da Universidade da Tasmânia “estavam pesquisando um sistema agricultural sustentável para servir como resposta positiva aos sistemas políticos e industriais que, na visão de Mollison, condenavam a continuidade da vida humana e do mundo à nossa volta.” (MOLLISON, 1991) O processo resultou no conjunto de princípios e num grande jardim experimental rico em biodiversidade que servil como laboratório a céu aberto para suas observações.

As observações prosseguiram nas florestas australianas, encontrando padrões e princípios que pudessem estar presentes em sistemas de alta produtividade, estáveis e recuperadores de ecossistemas locais. Viajaram o mundo encontrando conceitos e práticas de culturas ancestrais remanescentes que vivem em relativo equilíbrio com o meio ambiente, e “sobreviveram por mais tempo do que qualquer um dos recentes experimentos civilizacionais” (Daniel Quinn, s.d.). Muitos desses conhecimentos, habilidades e sabedorias passaram a fazer parte da permacultura, que os concilia áreas do conhecimento moderno, como biologia, agroecologia, arquitetura, nutrição, geografia de paisagem, antropologia, filosofia e economia solidária.

São conhecimentos aplicáveis praticamente em qualquer lugar. O permacultor é um design que busca a interação e integração entre todos os elementos do espaço onde se encontram os assentamentos humanos, possibilitando a formação de unidades rurais, cidades, casas, escolas, praças, ecovilas e aldeias com padrões de sustentabilidade mais permanentes. Há menor gasto de energia e esforço na manutenção dos mesmos. O cultivo, por exemplo, tende a diminuir, cedendo lugar a mais atividade de coleta.

Embora, a princípio, a Permacultura aparente ser de trabalho intenso, ela não é um retorno aos sistemas proletários de colheitas anuais, escravidão e sofrimento sem fim [...] Pelo contrário, ela prioriza o design [...] para o melhor benefício, utilizando uma certa quantidade de trabalho humano (que pode incluir amigos e vizinhos), uma acumulação gradual de plantas produtivas perenes, [...] o uso de recursos biológicos, tecnologias alternativas que gerem e economizem energia e um uso moderado de máquinas, de forma apropriada. [...] Neste momento, nos parece óbvio que o planejamento da produção alimentar altamente intensiva e biológica, a partir da porta de casa, é o único caminho para a saída das crises futuras. (MOLLISON, 1991)

A permacultura não é restrita a uma disciplina acadêmica, ciência, filosofia ou técnica. Mas pode incluir isso tudo. Não depende apenas do projeto de especialistas. Mais a contribuição destes é bem vinda. A permacultura também contribui para os mesmos, ajudando-os a ter idéias e práticas mais sustentáveis diferentes das convencionalmente utilizadas.

A Permacultura é fundamentada eticamente e concebe princípios ecológicos para estabelecer, desenhar, criar, gerir, coordenar, imitar e melhorar os esforços feitos por indivíduos e comunidades por um futuro sustentável. O fazer permacultural se constrói pensando sobre o uso dos recursos de que se dispõe localmente, aprendendo a fazer diretamente aquilo que de outra maneira demandaria muitos intermediários, altos custos financeiros, de energia no transporte e nos longos processos industriais, alta poluição e impactos socioambientais.

Mollison ganhou o prêmio Nobel Alternativo, chamado de “Premio da Sustentabilidade” (Right Livelihood Award) no ano 2000, a medalha VAVILOV e foi declarado o Ecologista do Século na Austrália. (ECOVILA CUNHA, 2011) Em 1978, Holmgren deixou a universidade e foi se dedicar exclusivamente à melhoria do método e à sua propagação. (ROMERO, 2002). A permacultura chegou ao Brasil por Mollison em curso dado em Porto Alegre.” (GRUPO DE PERMACULTURA DA UFSC, 2011)

Abaixo são citados os princípios da Permacultura:

Princípios éticos

  • Cuidado com a Terra
  • Cuidado com as Pessoas
  • Partilha justa, estabelecer limites para consumo e produção, e redistribuir o excedente.

Princípios gerais e de design

·         Localização relativa: cada elemento (casa, tanque, estradas etc.) é posicionado em relação ao outro, de forma que auxiliem mutuamente.
·         Cada elemento executa muitas funções.
·         Cada função importante é apoiada por muitos elementos.
·         Planejamento do uso de energia para a casa e os assentamentos (zonas e setores).
·         Preponderância do uso de recursos biológicos sobre o uso de combustíveis fósseis.
·         Reciclagem local de energias (ambas: as humanas e as combustíveis).
·         Sistemas intensivos em pequena escala.
·         Utilização e aceleração da sucessão natural de plantas, visando o estabelecimento de sítios e solos favoráveis. (Sistemas Agroflorestais são uma forma de realizar isso).
·         Policultura e diversidade de espécies benéficas, objetivando um sistema produtivo e interativo.
·         Utilização de bordas e padrões naturais para um melhor efeito (efeito de bordas).

Os campos/áreas de conhecimento são ilustrados pela Flor da Permacultura:


Fonte: < http://casacolmeia.wordpress.com/o-que-e-a-permacultura>

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ECOVILA CUNHA. Curso de Qualificação de Permacultores. Disponível em: <http:// www.ecovilacunha.org/portugues/programas.html>. Acesso em 05 junh. De 2011.

GRUPO DE PERMACULTURA DA UFSC. Permacultura. Disponível em: <http://www.cca.ufsc.br/permacultura> Acesso em 5 de junho de 2011.

MOLLISON, Bill. Introdução à Permacultura. 2º Ed. Editora Tagari Publications  (Inglês), Editora Novo Tempo (Português): Autrália, 1991. 2º Ed em 1994. Tradução por André Luis Jaeger Soares. 204 p.

PERMACOLETIVO. Disponível em: <http://permacoletivo.wordpress.com>.

QUINN, DANIEL. Ismael. São Paulo: Peripópolis, 1998.
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Permitido cópia, desde que citados a fonte e o autor.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Ecobiocosmoética


Ecobiocosmoética
Fernando A. Lana

A Ecobiocosmoética pratica a ecologia em vários níveis, como o pessoal, social e ambiental. Intenciona o bem de todos os seres do Universo (kosmos). Promove o respeito e reconhecimento do valor, importância, direitos e dos interesses dos habitantes e integrantes da Terra, seres igualmente terráqueos e interdependentes. É centrada na consideração da vida em suas diversas formas, valorizando-a desde o nível individual, visto que cada ser vivo tem seu valor próprio, intrínseco e inerente. Esse valor é independentemente da utilidade que venham a ter para os humanos ou para o meio ambiente, da presença de razão, senciência ou de qualquer legislação. Eles possuem interesses próprios, como o interesse comum em continuar vivos.  Os sencientes, aqueles com sensibilidade e consciência do que se passa ao redor, como animais humanos e não-humanos, têm interesses como os de não serem tratados como propriedade, mercadoria, objeto ou instrumento das vontades humanas; não serem subjulgados, escravizados, explorados ou sofrer danos físicos ou psicológicos, como os que causam dor.  Esses seres devem ser incluídos na comunidade moral e terem liberdade de viver segundo esses interesses próprios.

Ações insustentáveis violentam a Terra, os ecossistemas e os seres deles integrantes, provocando desequilíbrio ecológico e pondo em risco o suporte à vida e à biodiversidade. É preciso cultivar a Cultura de Paz e a não violência para lidar com isso, indo além do ambientalismo superficial que se importa apenas com o número de indivíduos, a “sobrevivência” da espécie e a exploração controlada da natureza. É importante pensar nas necessidades específicas de cada ser, como a de não ser oprimido ou coagido autoritariamente por outro. Os indivíduos poderiam agir livre e espontaneamente, com originalidade e criatividade, desde que sua liberdade de um não tire a liberdade de outros.

A ecobiocosmoética traz um pensamento interdependente, ecossistêmico, holístico e complexo. Interliga questões teóricas, práticas, éticas, filosóficas, ambientais, sociais, de saúde, economia e política. Incentiva a compaixão e o amor enquanto agentes transformadores da realidade. Promove uma cultura de paz e não violência por meio da educação ambiental (ecopedagogia). Prioriza as relações harmônicas altruístas como cooperação, apoio mútuo e comunitarismo. Valoriza a liberdade, autonomia, justiça e beneficência. Reconhece a unidade na diversidade e a diversidade na unidade. Valoriza um viver voluntariamente simples, com consciência e equilíbrio dinâmico. Incentiva a Permacultura e a agroecologia no cotidiano. Espera que isso contribua na construção dinâmica de uma ética abrangente, sustentável, libertária e revolucionária.


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